quinta-feira, 26 de maio de 2011

Entrevistas : O líder precisa ser um bom comunicador



EntrevistasA busca por talentos que façam a diferença para o negócio tornou-se uma premissa básica para as empresas competitivas. Mas para que esses profissionais agregem valor, eles precisam atuar em equipe e, conseqüentemente, necessitam ter um líder que seja capaz de influenciá-los e levá-los a obter resultados positivos. No entanto, isso só será uma realidade se a liderança souber comunicar, pois sem essa competência é provável que as metas traçadas não saiam do papel. Mas, quais são as características de um líder que se faz entender corretamente?

Para se tornar um bom comunicador é fundamental colocar-se no lugar do outro, a fim de que alguns estímulos sejam criados e a comunicação tenha êxito. “Ser um bom comunicador é fazer uso de pausas, para que as pessoas possam compreender de forma lenta e gradativa aquilo que está sendo dito, é ter boa pronúncia, é falar com alteração de volume, com tonalidade e com musicalidade”, afirma o consultor e especialista em comunicação Reinaldo Passadori. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Passadori explica como o gestor deve se posicionar quando vai transmitir uma informação, pois apenas falar não é suficiente para ser “entendido”. A condução do processo de feedback também é abordada pelo consultor. A entrevista é toda sua, aproveite a leitura!

RH.com.br - Hoje, o mercado foca a atenção para captar e reter líderes preparados para trabalhar em equipe. Nesse caso, o “saber comunicar” tornou-se uma competência essencial para os gestores?

Reinaldo Passadori - Não dá para desassociar a comunicação da liderança. O gestor como a pessoa que exerce a influência sobre as pessoas naturalmente precisa exercer essa influência. E só vai exercer essa influência por meio da habilidade de comunicar. Eu gosto muito de usar a liderança ou fazer uma ilustração pensando na liderança como uma pedra que se joga sobre uma lagoa ou uma piscina – como é só uma ilustração, dá para entender o que se quer dizer - a ondulação que vai se propagar por toda a lagoa é o reflexo da influencia do líder sobre os seus liderados ou do comandante sobre seus comandados. Uma boa comunicação é aquela que leva em consideração a pessoa com quem se está se comunicando. Ela tem processo empático, ela tem firmeza, ela tem assertividade e não agressividade, ela tem respeito. O bom comunicador utiliza bem a sua voz, o seu corpo, possui uma linha de argumentação e leva em consideração a sensibilidade e as características dos ouvintes, no nosso caso, os liderados.

RH.com.br - Quais as características de um líder que tem uma boa comunicação com sua equipe?

Reinaldo Passadori - Posso citar algumas características como, por exemplo: desenvolver a arte da empatia é colocar-se no lugar da outra pessoa para que possa gerar estímulos adequados de acordo com a compreensão e a capacidade do outro entender; a utilização da voz, falar com uma velocidade que venha expressar a emoção daquilo que está sendo dito. Fazer uso de pausas para que as pessoas possam compreender de forma lenta e gradativa aquilo que está sendo dito, é ter boa pronúncia, a utilização da voz, é falar com alteração de volume, com tonalidade e com musicalidade - para que a fala fique rica, encantadora e com beleza e não fique monótona; a utilização do corpo, gestos, mãos, braços, semblante, a estrutura corporal - olhar nos olhos da pessoa quando fala. Outra característica seria ainda gentileza, a cortesia, a boa educação, falar num tom que a pessoa não se sinta agredida, ao contrário se sinta respeitada. Resumidamente: uma é o conteúdo que deve ser consistente, claro, correto e a outra - a forma gentil, educada e firme e transmitir de forma tal que a outra pessoa se sinta valorizada, respeitada.

RH.com.br - Ter uma boa comunicação tornou-se sinômino de um exímio negociador?

Reinaldo Passadori - De fato isso acontece, além do líder, para o negociador, a comunicação é fundamental. A comunicação não pressupõe apenas falar, mas pressupõe saber interagir com o interlocutor. E o processo de negociação nada mais é do que entender o que a pessoa está sentindo, entender o argumento - se está sendo bem dito ou não - controlar a sua emoção para não agir de forma impensada.Ter boa habilidade de negociação é conhecer gente, é conhecer pessoas, é saber o momento de agir. Assim, como em um jogo de pocker. A pessoa tem uma boa carta, tem uma boa jogada, mas não pode expressar que está com uma boa jogada porque tem a intenção de conseguir, obviamente, um resultado que talvez não seja o melhor, mas que seja justo num processo de negociação e que o outro também – no final da negociação – se sinta valorizado, respeitado.

RH.com.br - O exercício da comunicação para um gestor é uma atividade versátil?

Reinaldo Passadori - Entendo um gestor como um líder. Mas, vamos pensar no gestor como um empreendedor, um empresário, uma pessoa que tem a responsabilidade não só do comando da sua equipe, mas a visão total de uma organização ou do seu departamento no contexto empresarial. O gestor tem contato com seus subordinados, ele tem contato com seus superiores, ele tem contato com os seus clientes internos e externos, ele tem contato com o mercado de uma maneira geral. Por isso, o gestor atua em diversas frentes: ora está negociando, ora está liderando, ora está proferindo uma palestra, ora está concedendo uma entrevista.

RH.com.br - De forma prática, como o líder pode melhorar a comunicação com sua equipe?

Reinaldo Passadori - A melhor forma para melhorar a comunicação é a percepção do outro. É ter a habilidade de falar de forma apropriada, de controlar a emoção, de não falar de forma apavorada nem afobada, de saber ouvir o que o outro está dizendo, de saber controlar-se no tempo para não falar demais, evitar falar tagarelando, ou seja, são características que tornam um bom comunicador num bom negociador. Além de se colocar no lugar do outro o grade segredo é saber ouvir e dar oportunidade que os subordinados falem, para que por meio do respeito mútuo a comunicação seja garantida.

RH.com.br - A prática do feedback é uma preocupação das empresas, pois se o processo for mal conduzido pode gerar conseqüências negativas tanto para a organização quanto para o colaborador. Qual a premissa básica para realizar um feedback?

Reinaldo Passadori - O feedback, obviamente, tem uma intenção positiva. Para que feedback seja bem feito quem conduz o processo primeiro tem que levar em consideração que a pessoa nem sempre gosta de receber um feedback – ainda mais se ele vai propor uma crítica ou falar de alguma fraqueza. Uma boa prática é aquela comumente conhecida como: sanduíche. Ou seja: pão, recheio e depois o pão. Em outras palavras: o ideal seria recheio, pão, recheio. O ideal é que se enalteça os pontos positivos e depois com habilidade e respeito a pessoa que está concedendo o feedback deve – sempre com o objetivo de aprimorar de gerar a possibilidade de desenvolvimento da pessoa que está recebendo o feedback. Daí, sim, apontar as falhas - sempre com o objetivo de e daí apontar as falhas daquilo que não está bom e pode ser melhorado.

RH.com.br - No processo de feedback, o líder deve ser um canal de mão dupla, ou seja, falar no momento certo e ouvir o outro lado?

Reinaldo Passadori
- Não é um feedback trocado. Há situações sim, mas quando o líder quer e precisa de um feedback ele abre um espaço para dar e receber, mas quando se trata de uma orientação, de um ajuste em função a uma expectativa de um colaborador é preciso ter uma ressalva em relação à “mão-dupla”. Porque o que pode acontecer nessa hora é que ao invés dele fazer alguma crítica, abre um espaço para ser criticado. Nesse sentido, quando se tratar de uma orientação, de um ajuste que o líder queira fazer em relação à performance ou à atuação de um colaborador, não creio que seja este o momento de uma “ mão-dupla”. Muito embora, uma liderança aberta hoje pode, em algum momento, abrir esse canal de recepção de críticas e sugestões a partir de sua performance, mas há de se tratar isso de uma forma específica com objetivo específico.Ressaltando: se o objetivo é orientar um colaborador, dizer que ele está falhando em relação a certos procedimentos e não está atendendo às expectativas em relação ao trabalho dele, não acredito que seja o momento de se criar a “mão-dupla”.

RH.com.br - Quais as principais dificuldades que os líderes encontram ao exercitarem a comunicação com suas equipes?

Reinaldo Passadori
- Num primeiro momento é bom que não se confunda liderança com chefia. Uma das principais dificuldades encontradas pelos líderes é exatamente a inabilidade da comunicação apresentada pela falta da empatia ou de sensibilidade - uma das principais falhas de um líder no processo da comunicação. A comunicação pressupõe que a pessoa fale a outra entenda e receba o feedback como sinal de que compreendeu aquilo que foi dito. Existe o emissor, o receptor, a informação que é passada e o feedback e o bom comunicador procura saber se houve entendimento perfeito diante do que foi dito.

RH.com.br
- A dificuldade de saber comunicar dos gestores está apenas relacionada aos seus subordinados ou é extensiva a outros profissionais?

Reinaldo Passadori - No geral, a pessoa tem ou não tem a dificuldade de se comunicar. Não é somente na liderança que ela vai exercer a sua comunicação. Mesmo por que, o gestor tem uma polarização, uma ramificação ou uma capilarização de relacionamentos. Ora está falando com pessoas fora da empresa, ora está atendendo pessoas em uma visita, ora está conversando com profissionais de outras áreas – não apenas os seus subordinados. A comunicação de um gestor atinge outros nichos, outros setores. Se um falante tem dificuldades de comunicação isso é expandido para todos os níveis e assim inversamente.

RH.com.br - Em que ações a área de RH deve investir para tornar os gestores bons negociadores?

Reinaldo Passadori - Contratar consultorias ou empresas que estejam capazes de: oferecer recursos para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o bom desenvolvimento da função em que ocupa. No meu entender, os gestores de RH deveriam enxergar a comunicação como recurso básico, fundamental para que todas as pessoas, todos os gerentes e os gestores possam ter todas as habilidades específicas bem desenvolvidas. Claro que os cursos tão bem recomendados por grandes faculdades, ou ainda, os MBA’s, especializações até mesmo fora do país são primordiais para a formação do conteúdo. Porém, a habilidade mais básica e prática é a comunicação. No meu entender, o pré-requisito básico para qualquer profissional, antes de qualquer que seja o curso especifico é o de Comunicação Verbal - saber comunicar-se em qualquer contexto e, posteriormente, aprimorarem-se com cursos mais específicos para o aprimoramento da sua competência intelectual. Um profissional cada vez mais competitivo é o profissional que o mercado procura e que faz a diferença como líder e como comunicador.

Fonte: RH.com.br

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